o quarto
bagunçado e eu não quero arrumar... minhas coisas ficam perdidas pelos cantos e se me perguntarem onde está qualquer coisa eu vou responder que não sei. fico aqui dentro e não quero sair desse escuro. minha irritação vem desse sentimento de falta, que chamamos saudade, mas saudade ainda fica muito vago pra mim. e se tento melhorar ouvindo conversas alheias só pioro: é o irmão, mãe e pai que quase morreram do coração, é ele próprio que fez uma ponte de
safena outro dia e agora conserta o carro. são as meninas, todas iguais: dentro dos
shortinhos minúsculos e donas de cabelos
espetaculares que ainda insistem que para conquistar o menino dos sonhos precisam vulgarizar... aprendem essas letras de uma música que as
esculhambam e as cantam repetidamente no pé da minha janela. os meninos que não querem nada com a vida deles próprios ou de qualquer outra pessoa, que colocam no volume máximo a música que dizem eles ser
rap. mas quem sou eu pra tá aqui falando dos outros? não sei. eu, que já nem ligo mais para o que vão falar das barbaridades que ando fazendo com meus pulmões ou com as regras que andei quebrando. que nem tenho coragem pra abrir um livro e ultimamente a única leitura que faço vem de Caio (o
fernando). Enfim, eu vou sair dessa, de novo. Só que isso de entrar e sair do poço o tempo todo me cansa, isso de sonhar só, nessa terra de ninguém, cansa. Cansa acordar todos os dias e viver a mesma coisa, pensando num futuro tão próximo, bonito e que me preparo a tanto tempo pra vivê-lo, que esqueci o tempo todo do presente.
mas, no mais... eu sei que vou sair dessa, não sei se amanhã ou mais tarde quando meu celular tocar e eu ouvir a voz da pessoa mais linda desse mundo ou daqui a três meses. eu sei que vai passar, não prometo (não tenho sido boa com minhas promessas), mas vai.
"Assim olhando, de repente você se percebe tão quieto que tem vontade de fazer alguma coisa. Qualquer coisa dessas cotidianas, anônimas, acender um cigarro, ligar o rádio, quem sabe abrir a vidraça atrás da qual você está parado. Mas não faz nada. Você prefere não fazer nada. Permanece assim: parado, calado, quieto, sozinho. Na janela, olhando para fora."
Caio F. Verdade interior, in: Pequenas Epifânias